Com a maior sinceridade do mundo ele me abordou assim.
"Oi?"
"É, se o senhor não tivesse me repetido, hoje eu não estava atrasado"
Estendeu a mão suja da graxa da oficina. Mais o pulso que a mão (medo de me sujar?).
"Hoje eu culpo o senhor."
Doeu. Eu comecei a ficar sem saber o que fazer. Sabia que não tinha acertado com o garoto que hoje é um rapaz. Imaginava o que teria acontecido com ele. De todas as outras vezes nunca tinha visto tanta mágoa no olhar dele.
Doeu.
"Se não fosse o senhor..."
E ficava ecoando na cabeça. Mesmo durante o minuto em que parei pra falar com ele. Perguntei como andavam os estudos. Ele respondeu.
"bem!" ("se não fosse o senhor...")
E minha mente completou o raciocínio.
"Se não fosse o senhor... eu não estaria trabalhando aqui."
Sabia que não tinha acertado com o aluno. Só não imaginava o tamanho do erro. Passei o resto do tempo me perguntando qual a minha real responsabilidade na vida daquele garoto.
"Hoje eu culpo o senhor..."
Não sai da mente.
Sempre me questionei sobre a responsabilidade de reter alguém. Se estaria errando ou acertando. Continuo sem saber. Mas apenas me resta dizer que doeu. E ainda dói.
"Se não fosse o senhor..."
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